O imortal Jorge Caldeira, ocupante da cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, estará palestrando neste mês de julho, na quinta-feira, dia 31, em evento do projeto “ABL na ASL: Palestras Imortais”, realizado pela Academia Sul-Mato-Grossense de Letras em parceria com a Setesc – Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura, por meio da Fundação de Cultura do Estado de Mato Grosso do Sul.

Sob o título “As perspectivas do Brasil no Mercado de Carbono Neutro”, a palestra será baseada na obra Brasil, Paraíso Restaurável, lançada por Caldeira em 2020, em parceria com Júlia Marisa Sekula e Luana Schabib (nascida em Campo Grande e que deverá estar presente no evento). A proposta é discutir o papel do Brasil na economia de carbono neutro.

Imortal da ABL, Jorge Caldeira

Segundo Jorge Caldeira, “será dada especial atenção à velocidade que a mudança na direção do carbono neutro está adquirindo no Brasil. Basta ver o caso de Mato Grosso do Sul, onde, a partir de 2022, a gestão Eduardo Riedel transformou um Plano de Carbono Neutro em peça central do planejamento do estado”.

O evento será presencial, com entrada franca e traje esporte, no auditório da ASL, localizado na Rua 14 de Julho, nº 4653, em Campo Grande, às 19h30. As atividades contam com parcerias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), por meio do projeto “Música Erudita e suas Fronteiras”, inserido no “Movimento Concerto”; e da Confraria Sociartista, através do projeto “Arte na Academia”.

A palestra também abordará as oportunidades de negócios que surgem com a consolidação do cálculo do balanço de carbono como fator para decisões de investimento. Segundo a consultoria McKinsey, o potencial de investimentos de curto prazo pode chegar a US$ 40 bilhões. Será apresentado, na medida do possível, o cenário mundial de investimentos baseados em carbono neutro — atualmente o mais abrangente do planeta.

Finalizando a noite, haverá confraternização no foyer da ASL, com apresentação instrumental com o músico, produtor e diretor musical Otávio Neto.

JORGE CALDEIRA

Historiador e escritor, Jorge Caldeira é imortal da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 16. É uma figura central na renovação da literatura histórica brasileira. Doutor em Ciência Política e graduado em Ciências Sociais pela USP, construiu uma trajetória marcada pelo rigor acadêmico e pela ousadia narrativa.

Autor de obras que revisitam criticamente a formação econômica e social do país, como História da Riqueza no Brasil (2017), destacou-se também por Mauá, Empresário do Império (1995), referência nos estudos sobre empreendedorismo no Brasil Imperial, e A Nação Mercantilista (1999), que trata das raízes estruturais da economia brasileira.

Organizador da coleção Formadores do Brasil, publicou volumes sobre José Bonifácio e Diogo Antônio Feijó.

Teve também ampla atuação editorial — como publisher da revista Bravo! e editor em veículos como Exame, IstoÉ, Revista da Folha e Ilustrada da Folha de S.Paulo, além de consultor da TV Globo no projeto Brasil 500 Anos. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural (2018) e é também membro da Academia Paulista de Letras. Segundo Celso Lafer, é um autor que “traz uma nova visão sobre o Brasil, com múltiplos olhares e profundidade analítica”.

SÔNIA POSSI E ANDRÉA LUZ

A pintura ao vivo de julho pela Confraria Sociartista terá duas técnicas diferentes, com os trabalhos visuais de Andréa Luz e Sônia Possi.

Pela Confraria SociArtista, Andréa Luz

Andréa Luz é artista visual e arquiteta, com diversas exposições individuais e coletivas em Mato Grosso do Sul e no Brasil. Integra a Confraria Sociartista e, desde o início da carreira, retrata a vida indígena, a flora e a fauna do Pantanal, utilizando técnica mista de pastel seco, tinta acrílica e carvão.

Pela Confraria SociArtista, Sônia Possi

Sônia Maria de Medeiros Possi desenha mandalas intuitivas e, a partir dessas criações, começou a estudar e praticar outras técnicas como desenho com grafite, lápis de cor e tinta a óleo sobre papel. Atualmente dedica-se aos retratos, criando rostos de pessoas e motivos sacros.

GABRIEL DOS SANTOS E PEDRO IRINEU

Realizado mensalmente pela ASL em parceria com a UFMS, o projeto Movimento Concerto, dentro da vertente “Música Erudita e suas Fronteiras”, traz em julho os músicos Gabriel dos Santos e Pedro Irineu. No repertório solo: Turégano, de Federico Moreno Torroba – Gabriel dos Santos. La Catedral (3º movimento), de Augustin Barrios – Pedro Irineu. No repertório em duo: Opus 34 nº 02, de Ferdinando Carulli – Gabriel e Pedro.

Pela UFMS, a presença do violonista Gabriel dos Santos

Gabriel dos Santos é violonista e educador musical, com formação técnica pelo Conservatório Musical de Campo Grande e graduação em Música pela UFMS (em conclusão). Participou da Camerata Madeiras Dedilhadas, do Festival Mais Cultura UFMS e foi finalista do XV Concurso de Violão da FITO. Sua atuação se destaca pelo compromisso com a valorização da música como instrumento de expressão e inclusão.

Pela UFMS, a presença do violonista Gabriel dos Santos

Também pela UFMS, o violonista Pedro Irineu

Pedro Irineu é graduando em Licenciatura em Música pela UFMS, estudou com o professor Pieter Rahmeier e participou de apresentações locais e concursos como o XI Concurso Nacional de Violão Fred Schneiter (RJ). Participou de masterclasses com músicos renomados como Everton Gloeden, Gilson Antunes e Daniel Morgade. Atualmente integra a Camerata de Madeiras Dedilhadas.

INSTRUMENTAL COM OTÁVIO NETO

Músico Otávio Neto se apresentará no foyer

Após a palestra, na confraternização, haverá apresentação instrumental de Otávio Neto. Cantor, músico, produtor e diretor musical, é natural de Campo Grande (MS) e filho de um índio terena com uma mineira. Iniciou sua trajetória na música ainda na infância. Na adolescência, mudou-se para Curitiba, residindo na casa do maestro Misael Passos e de seu filho Misa Jr., quando teve os primeiros contatos com produção musical e arranjos. Ao retornar para Campo Grande, aprofundou-se na Soul Music e passou a atuar como arranjador e assistente técnico em estúdios. Fundou o projeto Aldeia Black e assinou arranjos para diversos artistas. Otávio Neto soma quase 70 CDs produzidos, abrangendo diferentes estilos musicais, além de DVDs e participações em shows realizados em várias regiões do país.

SERVIÇO

Chá Acadêmico

“ABL na ASL: Palestras Imortais”

Palestrante: Jorge Caldeira
Tema: “As perspectivas do Brasil no Mercado de Carbono Neutro”

Dia: 31 de julho de 2025
Horário: 19h30
Local: Auditório da ASL – Rua 14 de Julho, nº 4653 (Altos do São Francisco), Campo Grande – MS

Parcerias

UFMS – projeto Música Erudita e suas Fronteiras
Confraria Sociartista – projeto Arte na Academia

Entrada franca | Evento presencial | Traje esporte

Textos que saíram de cabeças, idades e realidades sociais diferentes, porém criativos e singulares, únicos para cada inspiração. A educadora, o artista, o ativista, a operária – enfim, uma composição plural de gêneros e de ocupações adornou na noite de quinta-feira, 24, na premiação aos 10 primeiros colocados no Concurso de Poesias “Oliva Enciso”. Promovido pela ASL (Academia Sul-Mato-Grossense de Letras), com a parceria da Setesc – Secretaria de Estado de Turismo, Desporto e Cultura (através da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul – FCMS), o concurso foi instituído em 2012 para ampliar os canais de fortalecimento cultural, com incentivo à produção autoral.

Os autores e autoras receberam certificados de participação. Os três primeiros classificados ganharam também prêmios em dinheiro nos valores de R$ 3.000,00, R$ 2.000,00 e R$ 1.000,00. A poesia vencedora, “Padilhas e Mulambos”, é de Rayanne Jarcem de Oliveira. Em 2º lugar ficou “Aguada”, de Márcia Regina Scherer; e em 3º, “A Parte que Falta”, de Ibelize Santos.

Acadêmicos e Premiados do Concurso “Oliva Enciso”

Completam a relação dos 10 vencedores – 4º lugar: Júlio Oliveira Costa, de Campo Grande (“Bixa-Terra”); 5º: Renata Boeira, de Dourados (“Hoje Escrevi Uma Matéria”); 6º: Angélica Cardoso Rodrigues, de Jardim (“Esperança”); 7º: Tácito Lourenço Batista, de Dourados (“Alvorada no Pantanal das Palavras”; 8º: Jurema Cristaldo, de Campo Grande (“Entre Dois Mundos”); 9º: Keyla Coelho, de Bandeirantes (“O Amor Respira por Aparelhos”); e 10º: Fabiano Baumgardt, de Campo Grande (“Nas Vielas do Presente”). À exceção de |Renata Boeira e Tácito Batista, todos se fizeram presentes.

As poesias e os prêmios foram declamados e entregues pelos imortais da ASL Henrique Medeiros, Fábio do Vale, Sylvia Cesco, Sérgio Cruz, Rubenio Marcelo e Elizabeth Fonseca. Os elogios à qualidade das poesias  foram unânimes. Para os acadêmicos Marisa Serrano – que conduziu a apresentação – e Rubenio Marcelo, mais uma vez o concurso demonstrou sua importância no fomento, na resistência e na produção literária em Mato Grosso do Sul .

Acadêmicos, familiares e amigos dos participantes animaram a noite de premiações na sede da Academia. O presidente da ASL, Henrique de Medeiros, definiu o concurso como “um chamado aos talentos de todas as épocas, sobretudo para quem não teve sua obra contemplada com a justa visibilidade e quem, por timidez ou outro tipo de relutância, demora a colocar para fora sua capacidade de criação”.

O presidente da ASL, Henrique de Medeiros, e o secretário-geral, Rubenio Marcelo, premiam Rayanne Jarcem

Padilhas e Mulambos
Rayanne Jarcem de Oliveira

Você achou que a carne negra era mais barata.
Ouviu na boca do açougue que devia levar, mas desconsiderou que era dura de engolir.
Começou a me fazer na panela errada, sem cuidado, sem dengo.
Nem lembrou que carne de África se faz com ervas e oração,
se faz com sal fino, com licença ancestral.
Ficou ensebando com coisas erradas, usou desamor, pitada de cinismo,
e o pacto de me fazer morrer.
Me pegou de qualquer jeito, não pensou em prato especial, cozinhou em banho maria.
Mas não contava que minhas Marias eram outras.
Eram Padilhas e Mulambos, era a família que reza meia noite na encruza
enquanto sai para trabalhar.
Maria que bota lingerie chique, batom vermelho e bate no peito da negritude que lateja.
Aqui ninguém nos mata de novo.
Mesmo que tenha quebrado meus ossos com saliva quente,
mesmo que separasse cada estilhaço para não mais juntar.
Esqueceram de te falar.
Carne preta se junta no faro.
Nossos ancestrais deixaram mapas em padês, tranças e sambas.
Veja bem. Juntei meus ossinhos na força das marés.
África me fez reexistir e nunca mais parar de dançar.
Hoje, quando escutar o ranger dos dentes por aí é o meu fantasma.
Minha carne preta é pó da noite.
Ela treme e se esparrama por todo lugar.

Henrique de Medeiros e Rubenio Marcelo premiam Marcia Scherer

Aguada
Marcia Regina Scherer

Houve um tempo em que as águas chegavam
Como num turbilhão de pensamentos
Inundavam
Mentes férteis, ora ocas, ora secas
Vertiam reflexões. Gotejavam

Nesse tempo água era que nem vida
Tinha gosto e cheiro d’alma
Transparente
Como brisa mansa
Gingando a rede com calma

Há de haver o tempo em que as águas voltarão
Caudalosas de riso frouxo
Arrastando morte e secura
Levando canoas para o longe
Afogando mágoas de quem se cura

Nesse tempo, eu rio
Caudalosamente
Em direção ao mar

Rubenio Marcelo e Raquel Naveira premiam Ibelize Santos

A parte que falta
Ibelize Santos

Surgiu de um sonho
Nasceu de um plano
Cresceu num redomo

Fez parte em nós
Encheu nossos anos
Teceu nossos nós

Faltou devagar
No meio da dor
Testada na sorte
Deixou-se vagar

Em tanto existir
Tornou-se banal
Morreu nos assuntos
Virou trivial

Largada num fundo
Talvez virou sobra
Juntada a outras tantas
Deixadas pra fora

Mas toda essa falta
Um dia deságua
Na face que escorre
A dor que se narra

Acadêmica Elizabeth Fonseca premia Julio Cezar Oliveira Costa

Bixa-terra
Julio Cezar Oliveira Costa

Sou raiz que teima em brotar na beira da cerca,
fruto que não coube no curral da norma.
Entre Pantanal e poste, danço com as mariposas
no cio da noite sem perdão.

Meu corpo é território em disputa,
que muito cedo fincou bandeira.
Não sou invasão. Sou retomada.
Minha pele guarda o barro dos que vieram antes.

Aqui, onde o cerrado arde devagar,
sou canto torto de passarinho sem gaiola.
Chamam de pecado o que é só flor em outra estação.
Não sou lenda urbana… Sou memória viva!

Nasci entre o sussurro das onças
e o grito calado dos guarani-kaiowá.
Sou bixa no sul do centro do mundo,
só isso já é revolução.

Os bois olham torto, o padre me nega,
mas minha reza é de tambor,
minha missa é no brejo,
meu evangelho é o beijo que dei escondido.

Sou o que não se ensina nos livros da escola,
mas se aprende quando o mato fala.
Se me apagarem daqui,
vou virar estrela, daquelas que orientam caminho.

Sou sul, mas nunca silêncio.
Sou brilho, mas também cicatriz.
E se me perguntarem de onde venho,
aponto o coração e digo: daqui.

Hoje escrevi uma matéria
Renata Aparecida Boeira de Oliveira Costa

Hoje escrevi uma matéria sobre um poeta que faleceu faz tempo.
Ele está na minha tatuagem, nos bilhetes de amor,
em buquês de rosas, nas leituras dos solitários,
na pupila dos amantes que gozam juntos nas madrugadas.
No bater de portas dos casais que se despedem do afeto.
No sorriso das crianças e nas notícias que se esqueceram de ser boas.
Nas ruas, nos bares, nos copos dos pessimistas da vida.
Nos hospitais, nas delegacias e nos funerais que acontecem ao meio-dia.
Em ônibus, aviões, bicicletas, nos pés no chão.
Nos telefonemas de saudade, nas mensagens que morrem no orgulho.
Nas distâncias assinadas em contrato, na vontade guardada.
Na descrença total da felicidade ou na fé violenta pela vida — no amor.
Esse poeta me sussurra que continua vivo. E eu acredito.
Porque, em alguns momentos, eu posso abraçá-lo.

Acadêmica Elizabeth Fonseca premia Angélica Cardoso

Esperança
Angélica Cardoso Rodrigues

Ainda que o amargor do café lembre
o gosto cru dos dias sem cor, ainda
que o belo canto dos pássaros
se dissolva no lamento abafado do mundo,
ainda que o vapor das máquinas
se confunda com as densas nuvens,
ainda que as noites tempestuosas
não tragam apenas a chuva,
teus olhos de menina,
indomáveis como o primeiro desejo que não se diz,
me retêm na quina entre o ontem,
o agora e o incerto amanhã.
As linhas que se espalham como ramas no rosto,
tatuagens invisíveis do tempo invencível,
são trilhas de um mapa que só o viver decifra.
E mesmo quando eu despenque
num abismo voraz e silencioso,
como um castelo de cartas
derrubado pelo sopro impiedoso
de uma criança inquieta,
tu ainda me restas —
chama escandalosa que insiste
em pulsar em meu peito.
E por te ser,
me incendeio.

Alvorada no Pantanal das Palavras
Tácito Loureiro da Silva Lourenço Baptista

Amanhece nas entranhas do barro úmido,
onde sílabas brotam como rebentos.
O tuiuiú de metáforas rasga o céu anil,
e o voo esculpe versos no ar denso.
O Paraguai, rio-caderno ancestral,
carrega folhas de histórias submersas —
cada onda, um verso sem adeus,
cada remanso, um ponto de reflexão.

O vento vira páginas do capim dourado,
libélulas grifam os hífens do tempo.
No lodo da memória, o passado acende:
peixe-espelho que na corrente se esvai.
Aqui, o poeta tece a trama do verbo,
arreando rimas soltas na vasta planície.
Sob os cascos do tempo, o silêncio fala:
raízes que bordam a língua da terra.

O sol, cururueiro de ouro incandescente,
pousa na copa vazia do cambará.
O gado das horas pasta a luz do verde-cálice,
rumina sonhos em tons de anil profundo.
O rio que transborda o leito estreito
é o mesmo que corre nas veias da escrita —
cantando a saga dos que dormem em versos,
sonhos que a terra guarda nas raízes.

Como o trovador das águas esquecidas,
minha voz busca o eco dos primeiros nomes:
palavras que o vento não apagou,
mas guardou nos sulcos do horizonte.
E à noite, quando o brejo entoa cânticos de vida,
e as raízes ascendem ao céu em espiral de essência,
o poema nasce: semente alada
que planta futuros no solo do agora.

Acadêmico Sergio Cruz premia Jurema Cristaldo

Entre Dois Mundos
Jurema Cabral Cristaldo

Nasci da mistura de tempos antigos,
do encontro forçado de histórias partidas,
trazendo na pele a dúvida eterna:
quem sou eu, se sou metade de tudo
e inteiro de nada?

Muito branca para ser preta,
muito preta para ser branca,
flutuando entre olhares que me julgam,
entre vozes que me nomeiam sem permissão.
“Morena jambo”, “cor de suja”,
tantos nomes, e nenhum que me caiba.

Na escola, no bairro, na vida,
não bastava existir, era preciso escolher.
Mas como se escolhe uma cor,
quando a pele muda com a luz?

Sou mais clara no inverno,
mais escura no verão,
o bastante para nunca ser suficiente.
Elogios que ferem:
“Cabelo bom, mas nem tanto”,
“Traços finos, que sorte”.

Meu reflexo é uma interrogação,
minha cor, uma incógnita.
Sou preta quando convém,
branca quando interessa,
mas nunca o bastante para ser qualquer uma.

Sou mistura que resiste,
sou a história em tom mestiço,
a dúvida que insiste em existir.

Acadêmico Fábio do Vale premia Keyla Alves Coelho

O Amor Respira por Aparelhos
Keyla Alves Coelho

Há um soro invisível pingando no peito da gente,
remédios coloridos tentando curar o que é ausência.
As crianças trocam o chão de terra pela tela azul,
e esquecem como é sujar os joelhos de esperança.

Os olhos não se encontram, só deslizam…
dedos nervosos em telas frias, em conversas vazias.
Religiões de curtidas, orações por emojis,
e a fé… a fé, coitada, internada em estado terminal.

Lá fora, as sirenes tocam — não de ambulâncias,
mas de guerras travadas com palavras cortantes.
Aqui dentro, nas salas de estar, batalhas silenciosas:
casamentos esvaziados, filhos órfãos de pais vivos.

Cada notificação é um tiro de ansiedade,
e o café da manhã virou comprimido com água.
Nos noticiários, bombas; nos lares, silêncios.
O mundo inteiro respira, mas com ajuda de máquinas.

E o amor? Ah, o amor…
entubado, cercado de alertas vermelhos,
mantido vivo por um fio de memória,
esperando que alguém, um dia,
desligue o wi-fi…
se reconecte com a própria humanidade,
e descubra, enfim,
que o único recomeço possível
ainda pulsa…
ainda luta…
ainda resiste,
mesmo que respirando por aparelhos.

Acadêmico Fábio do Vale premia Fabiano Baumgardt

10º

Nas vielas do presente
Fabiano Rocha Baumgardt

Nas vielas do presente, onde as sombras altivas.
Se erguem, e a luz se esconde, pouco viva.
Um povo vagueia, perdido em revoltas internas,
Emaranhados em problemas e tramas tão ternas.

Caminham para um destino em nevoeiro envolto,
Na era da incerteza, onde o medo tem seu voto.
Erguem-se das cinzas do desespero, como as que padecem,
Buscando respostas em sonhos e anseios que se mexem.

Dos dias de desespero profundo, à falta de amor,
Da justiça cambaleante à moral sem fulgor.
Marcham, os heróis do presente, em estradas tortuosas,
Enfrentando desafios com bravura corajosa.

Das torres altas de marfim onde a ganância se revela,
Aos sombrios becos onde a miséria se acotovela,
Lutam e perseveram, em meio ao caos que os cerca,
Onde a esperança vacila, mas ainda se arqueja.

Nos anais da história, a narrativa se repete,
Injustiças e vidas entrelaçadas, história que se compete.
Em batalhas invisíveis, e em conquista sem som,
A humanidade prossegue, em sua jornada em tom.

A vice-presidente da ASL, acadêmica Marisa Serrano, conduziu a solenidade.
Fábio do Vale, Sylvia Cesco, Rubenio Marcelo, Henrique de Medeiros, Raquel Naveira, Elizabeth Fonseca
e Sergio Cruz foram os acadêmicos que formaram a mesa oficial da cerimônia de premiação.

Nesta quinta-feira, 24, a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras entrega os prêmios aos autores que se destacaram no Concurso de Poesias “Oliva Enciso”, iniciado em junho com o objetivo de estimular a produção literária no Mato Grosso do Sul. O evento é aberto ao público e oferece certificações e prêmios em dinheiro aos vencedores: 1º lugar, poema “Padilhas e Mulambos”, de Rayanne Jarcem de Oliveira; 2º lugar, poema “Aguada”, de Marcia Regina Scherer; e 3º lugar, poema “A parte que falta”, de Ibelize Santos; além de certificação até o décimo colocado.

“Você achou que a carne negra era mais barata.
Ouviu na boca do açougue que devia levar,
mas desconsiderou que era dura de engolir.
Começou a me fazer na panela errada, sem cuidado, sem dengo.
Nem lembrou que carne de África se faz com ervas e oração,
se faz com sal fino, com licença ancestral.”

(trecho de um dos poemas classificados – que serão revelados na Noite -)

Os dez poemas classificados pela Academia serão interpretados na noite de quinta-feira por Acadêmicos, durante a premiação e certificação. O Concurso teve apoio da Secretaria de Estado de Turismo, Desporto e Cultura, pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul – FCMS. Conforme as regras divulgadas, os valores dos prêmios são: R$ 3.000 para o primeiro colocado, R$ 2.000 para o segundo e R$ 1.000 para o terceiro. As inscrições foram estaduais e gratuitas, com ampla divulgação, e permitiu o uso de pseudônimos, garantindo imparcialidade na escolha dos textos. Cada participante pôde enviar um único poema, sendo obrigatório residir no Estado e ter ao menos 18 anos.

“Nesse tempo água era que nem vida
Tinha gosto e cheiro d’alma
Transparente
Como brisa mansa
Gingando a rede com calma”

(trecho de um dos poemas classificados – que serão revelados na Noite -)

A seleção dos poemas selecionados foi feita por uma Comissão composta por membros da ASL — escritores que ocupam cadeiras imortalizadas na entidade. “Foram considerados critérios como originalidade e domínio da linguagem, em meio a cerca de quatro centenas de poesias enviadas de vários municípios sul-mato-grossenses”, comenta o presidente da ASL, Henrique de Medeiros. “Reforçamos nosso compromisso em ampliar o acesso à literatura e divulgar o talento local”, reiterou. Segundo Henrique, o certame é uma forma saudável de fortalecer autores experientes, revelar novas vozes e estimular o gosto pela leitura e escrita.

“Sou o que não se ensina nos livros da escola,
mas se aprende quando o mato fala.
Se me apagarem daqui,
vou virar estrela, daquelas que orientam caminho.”

(trecho de um dos poemas classificados – que serão revelados na Noite -)

O Concurso de Poesias “Oliva Enciso” homenageia a saudosa acadêmica da ASL —  corumbaense que foi uma pioneira da participação feminina na educaçação, cultura e política do Mato Grosso do Sul. O concurso mantém sua missão: reconhecer quem já contribui com as Letras sul-mato-grossenses e descobrir novas vozes literárias para o futuro.

Serão apresentados, também, os poemas: 4º lugar, “Bixa-terra” (Júlio Oliveira Costa, Campo Grande); 5º, “Hoje escrevi uma matéria” (Renata Boeira, Dourados); 6º, “Esperança” (Angélica Cardoso Rodrigues, Jardim); 7º, “Alvorada no Pantanal das palavras” (Tácito Lourenço Baptista, Dourados); 8º, “Entre dois mundos” (Jurema Cristaldo, Campo Grande); 9º, “O amor respira por aparelhos” (Keyla Coelho, Bandeirantes); e 10º, “Nas vielas do presente” (Fabiano Baumgardt, Campo Grande).

SERVIÇO

Concurso de Poesias “Oliva Enciso”
Noite de Premiação e Apresentação

Dia 24 de julho de 2025, às 19h30min

Auditório da ASL, Rua 14 de Julho, nº 4653
(Altos do São Francisco)

Entrada gratuita, evento presencial, traje esporte

Foi divulgada hoje pela Academia Sul-Mato-Grossense de Letras – em seu site oficial – a classificação do Concurso de Poesias “Oliva Enciso”, promovido para incentivar a produção literária no Estado. O Concurso foi aberto aos escritores sul-mato-grossenses e ofereceu prêmios de R$1.000,00 a R$3.000,00, com inscrições gratuitas e apoio da Secretaria de Estado de Turismo, Desporto e Cultura, pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul – FCMS. O Concurso de Poesias “Oliva Enciso” presta homenagem à saudosa corumbaense que ocupou a cadeira 22 da ASL.

Na edição 2025, as poesias premiadas e classificadas em primeiro, segundo e terceiro lugar foram: 1º lugar, poema “Padilhas e Mulambos”, de Rayanne Jarcem de Oliveira; 2º lugar, poema “Aguada”, de Marcia Regina Scherer; e 3º lugar, poema “A parte que falta”, de Ibelize Santos. Os poemas (todos de residentes em Campo Grande) serão divulgados e declamados no dia 24 de julho, em evento para entrega dos prêmios no auditório da ASL, às 19h30min.

O julgamento foi efetuado por duas bancas compostas por Acadêmicos da ASL. O presidente da ASL, Henrique de Medeiros, destacou a grande participação estadual e o fato de que o Concurso teve procura democrática de novos nomes no cenário literário estadual. Na premiação no dia 24 de julho, aberta gratuitamente ao público, serão apresentados e interpretados por Acadêmicos as obras dos 10 primeiros colocados e premiados os três primeiros ─ receberão os respectivos prêmios em dinheiro: R$ 3.000 (1º lugar); R$ 2.000 (2º lugar) e R$ 1.000 (3º lugar).

A comissão decidiu completar ordem de classificação não premiável financeiramente a mais estes sete poemas, em reconhecimento à sua qualidade literária (receberão diploma de classificação):

4º lugar, poema “Bixa-terra”, de Júlio César Oliveira Costa (Campo Grande).

5º lugar, poema “Hoje escrevi uma matéria”, de Renata Aparecida Boeira de Oliveira Costa (Dourados).

6º lugar, poema “Esperança – Ainda que o amargor do café”, de Angélica Cardoso Rodrigues (Jardim).

7º lugar, poema “Alvorada no Pantanal das palavras”, de Tácito Loureiro da Silva Lourenço Baptista (Dourados).

8º lugar, poema “Entre dois mundos”, de Jurema Cabral Cristaldo (Campo Grande).

9º lugar, poema “O amor respira por aparelhos”, de Keyla Alves Coelho (Bandeirantes).

10º lugar, poema “Nas vielas do presente”, de Fabiano Rocha Baumgardt (Campo Grande).

A obra do escritor sul-mato-grossense Augusto César Proença será abordada nas Leituras e Conversas que a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras realiza, nesta quinta-feira, dia 10, com entrada franca no auditório da instituição, às 19h30min. Lenilde Ramos, Maria Adélia Menegazzo e Sylvia Cesco são as imortais que apresentam e coordenam, na ASL, as edições do “clube de leitura” que a Academia promove ao público.

Como convidada, a corumbaense e professora da UEMS Suzylene Araújo participará do evento, contribuindo com análises sobre a obra de Proença. Segundo o presidente da ASL, escritor e publicitário Henrique de Medeiros, Proença foi “muito ligado à cultura e história pantaneira retratando a vida, a cultura e a sua natureza, sempre com um estilo realista e regionalista, abordando personagens e situações típicas da região”. Para Medeiros, Proença “buscou, também, resgatar a memória e a identidade pantaneira, valorizando suas tradições e sua diversidade”.

AUGUSTO CÉSAR PROENÇA

Augusto César Proença ocupou a cadeira nº 28 da ASL. Professor, contista, historiador brasileiro e pesquisador da cultura pantaneira e regional, Proença era natural de Corumbá (MS) e formado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da Região dos Lagos (Cabo Frio, Rio de Janeiro). Foi membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, da Academia Corumbaense de Letras e do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, sendo que, durante décadas, colaborou com o Suplemento Cultural (Caderno B) do Jornal Correio do Estado (Campo Grande/MS); e para a Revista da ASL.

Entre suas obras publicadas, estão “Snackbar” (1979), “Raízes do Pantanal” (1989), “A Sesta” (1993), “A condução” (1995), “Pra qualquer lugar” (1995), “Nessa poeira não vem mais seu pai” (1996), “Pantanal: gente, tradição e história” (1997), “Corumbá de todas as graças” (2003) e “Memória Pantaneira” (2004); foi roteirista e diretor do curta-metragem “A poeira”, baseado no seu conto “Nessa poeira não vem mais seu pai”. Participou também de várias Antologias nacionais.

Augusto César Proença recebeu várias premiações, entre elas o Concurso de contos “Ulisses Serra” (Campo Grande / MS), Prêmio de Edição Concurso Academia Valenciana de Letras e Contos “O Tio” (Valença / RJ); Prêmio de Edição Concurso da Editora Litteris Conto Paz e Amor (Rio de Janeiro / RJ) e 1° lugar no Grande Concurso de Contos e Poesia do Brasil Editora Litteris (Rio de Janeiro / RJ). Bastante participativo culturalmente, Augusto César Proença se fez presente e participou de inúmeros Encontros, Festivais, Congressos e Simpósios relativos a atividades literoculturais. A Cadeira 28 da ASL pertenceu anteriormente ao saudoso acadêmico Lécio Gomes de Souza.

SERVIÇO

Leituras e Conversas na ASL

“Augusto César Proença”

Dia 10 de julho de 2025, às 19h30min

Auditório da ASL, Rua 14 de Julho, nº 4653

(Altos do São Francisco)

Entrada gratuita, evento presencial, traje esporte