ASL participa do Encontro de Academias Estaduais de Letras em Goiânia

A valorização da Literatura nas grades escolares e o incentivo ao estudo de autores regionais pelas secretarias de Educação Estaduais e Municipais dos Estados brasileiros foram dois dos temas defendidos pelo presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras – ASL, Henrique Alberto de Medeiros Filho, durante o Encontro de Academias Estaduais de Letras do Brasil Central e Convidados, evento promovido em Goiânia pela Academia Goiana de Letras – AGL, em outubro de 2022.

Da esquerda para a direita, os presidentes das Academias Estaduais de Letras de GO, José Ubirajara Galli Vieira; de TO, Mary Sônia Valadares; de MT, Sueli Batista; de MS, Henrique Medeiros; do ES, Ester Vieira; e do RJ, Sérgio Fonta

Também palestrante no evento, com o tema “Oportunidades a ameaças enfrentadas pela literatura diante das novas mídias e os suportes”, o publicitário, jornalista e escritor Henrique de Medeiros teve dinâmica participação no Encontro, que publicou no seu encerramento a Carta de Goiânia, com resultados e propostas pela Literatura no país, contendo sugestões de todos os presidentes de Academias participantes do evento, coordenado pela ex-presidente da AGL, Lêda Selma de Alencar, e gerido por José Ubirajara Galli Vieira, presidente da AGL.

O Encontro teve a participação de seis presidentes de Academias (Espírito Santo, Ester Vieira; Goiás, Ubirajara Galli; Mato Grosso, Sueli Batista; Mato Grosso do Sul, Henrique Medeiros; do Rio de Janeiro, Sérgio Fonta; e Tocantins, Mary Sônia Valadares), sendo todos palestrantes à excessão do presidente da Academia Goiana. Com a participação de vários escritores goianos, o Encontro teve ainda palestras de abertura – com o professor doutor da UFG, Eguimar Felício Chaveiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás – e de encerramento – com o escritor e decano da AGL, Gilberto Mendonça Telles.

Lêda Selma (ex-presidente da AGL); Mary Valadares (presidente da ATL); Ubirajara Galli (presidente da ASL) e o presidente da ASL, Henrique de Medeiros, na mesa formada para a palestra da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Ao final do evento, surgiu a proposta por parte da presidente da Academia e Letras de Mato Grosso, Sueli Batista, de realização de uma segunda edição do Encontro em Cuiabá, em setembro de 2023. Dentre as propostas discutidas no evento, o presidente da ASL, Henrique de Medeiros, destacou ainda incentivo à leitura e maior intercâmbio entre as Academias Estaduais de Letras entre si e junto à Academia Brasileira e Letras – ABL.

Ainda a se destacar no Encontro, a participação e o relacionamento com os meios de comunicação feito pelo escritor Ademir Luiz da Silva, presidente da UBE-GO, e os trabalhos secretariados pelo primeiro secretário da AGL, Nasr Chaul.

Da esquerda para a direita, ex-presidente da AGL, Lêda Selma de Alencar; José Ubirajara Galli Vieira, presidente da AGL; presidentes das Academias de MT, Sueli Batista; de MS, Henrique Medeiros; o escritor e decano da AGL, Gilberto Mendonça Telles; presidente da Academia de TO, Mary Sônia Valadares; professor doutor da UFG, Eguimar Felício Chaveiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás; presidentes das Academias do ES, Ester Vieira; e do RJ, Sérgio Fonta; e Ademir Luiz da Silva, presidente da UBE-GO

No encerramento do evento foi lida a “Carta de Goiânia”, documento-síntese do Painel Literário:

Carta de Goiânia

Três dias iluminados pela primavera – 19, 20 e 21 de outubro de 2022 –. Todavia, a luz não se disseminava, apenas, na Casa Colemar Natal e Silva, sede da Academia Goiana de Letras/AGL, situada em Goiânia, na emblemática Rua 20, 175, Setor Central. A luz também emanava da alegria da Entidade em receber ilustres presidentes das Academias de Letras do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além de especiais convidados, para o PAINEL LITERÁRIO do Brasil Central e Convidados – Encontro de Academias de Letras –, sonho antigo da confraria.

José Ubirajara Galli Vieira, presidente da AGL, saudou, com boas-vindas e agradecimentos, os participantes do evento e declarou abertos os trabalhos. Três dias inteiros de congraçamentos, trocas de impressões, opiniões, experiências, debates. Momentos memoráveis, com relevantes conteúdos em palestras substanciosas, abrangentes, provocativas, enriquecedoras. Cada Painel Literário, destacado pelas peculiaridades do tema e importância das propostas, bem exposto nas falas dos palestrantes.

Dia 19

– Às 10h – O primeiro Painel, A ocupação humana do Cerrado e a narrativa decorrente, desenvolvido pelo geógrafo, Prof. da UFG, Dr. Eguimar Felício Chaveiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, resultou em instigantes questionamentos: 1) Quais as consequências de uma ocupação humana que não leva em conta o respeito ambiental? 2) Dizimação ambiental – há alguma recuperação possível? 3) É possível existir uma civilização apartada da Natureza?

– Às 14h30, Sueli Batista dos Santos, que preside a Academia Mato-Grossense de Letras, discorreu sobre A participação da mulher na vida acadêmica. Ao final, ela propôs: 1) Refletir sobre a expansão do espaço da mulher na vida acadêmica e na vida cultural como um todo. 2) Realizar bienal com obras de escritores das Academias de Letras, com exposições para públicos diversificados. 3) Reivindicar ao poder público aquisição e distribuição de obras dos acadêmicos visando ao compartilhamento do conhecimento, estímulo à pesquisa social e científica e à conservação do patrimônio cultural. 4) Fundar a Federação Nacional das Academias de Letras, ampliando-se os intercâmbios.

– Às 16h – a escritora Ester Abreu Vieira de Oliveira, presidente da Academia Espírito-Santense de Letras, versou sobre São José de Anchieta, no Espírito Santo, poeta e dramaturgo. 1) Reflexão sobre sua obra. 2) Como interpretar sua figura dentro da literatura brasileira? 3) Qual o papel da centenária Academia Espírito-santense de Letras, no cenário cultural brasileiro.

Dia 20

– Às 10h – Nesse terceiro Painel, O papel das academias de letras no Brasil foi abordado pelo escritor e presidente da Academia Carioca de Letras, Sérgio Fonta, que, antes, buscou, no passado, antigas academias, a começar pela primeira, a de Platão, na Grécia, para depois visitar as atuais, cujas dificuldades limitam suas atividades e execução de projetos. 1) A importância da força do Estado para estimular e dotar as academias literárias com aportes que lhes permitam realizar uma caminhada exitosa. 2) Situação deficitária de algumas instituições culturais. 3) Que mecanismos oficiais podem ser realizados visando ao seu melhor desempenho cultural. 4) Alerta para a não supervisão das redes sociais e da internet.

– Às 14h30 – a escritora Mary Sônia Valadares, presidente da Academia Tocantinense de Letras, enfocou O papel das academias na vida cultural das cidades novas. 1) Como pensar a atuação de sua Academia de Letras na vida cultural da cidade e do Estado? 2) Como articular sua função cultural de defensora das tradições linguística e cultural? 3) E as novas dinâmicas sociais, movidas por novidades tecnológicas e constantes mudanças nos registros linguísticos?

– Às 16h – Escritor Henrique Alberto de Medeiros Filho, presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, expôs as Oportunidades e ameaças enfrentadas pela literatura diante das novas mídias e os suportes. Em sua fala, propôs: 1) Valorização da Literatura nas Grades Escolares públicas. 2) Incentivo das Academias Estaduais, no destaque à Literatura e Leitura. 3) Participação das Academias nas redes sociais para maior empatia com suas regiões em relação ao conhecimento de seus escritores e obras com vistas à maior difusão, popularização e conhecimento. 4) Desenvolvimento de um trabalho para maior intercâmbio e interrelacionamento entre as Academias, o que diminuirá distâncias e desinteresses. 5) Aglutinação de esforços das Academias Estaduais de Letras de todo o Brasil, junto à Academia Brasileira de Letras/ABL, despertando-a para a importância da aproximação e intercâmbio da Casa Nacional com as Casas Estaduais, por meio de convênios ou atividades em prol da literatura e da Leitura, destacando-as em seus aspectos regionais e nacionais.

Dia 21

– Às 10h – Encerrando, com ‘chave de ouro’, o evento, diga-se, de máxima significação para a Literatura, pois abriu um olhar mais amplo para temas de interesse comum dos participantes, Gilberto Mendonça Teles, decano da AGL, palestrou sobre A visão da Poesia e sua relação com os problemas ambientais.

Conclusão:

Patentes, em um contexto geral: 1) Preocupação com o meio ambiente; 2) Importância, e até necessidade, de união, contatos mais estreitos e intercâmbios literários entre as Academias de Letras; 3) Dificuldades por que passam, com a falta de apoio do governo; 3) Função das Academias de Letras para a Cultura e para a sociedade. 4) Destacada, ainda, a exigência atual de inclusão das academias nas mídias.

Assim, esperam-se que as propostas não fiquem cravadas e esquecidas no papel e, sim, caminhem, voem para que o sucesso deste evento frutifique-se em expressivas conquistas e marcantes realizações.

Goiânia, 21 de outubro, primavera de 2022

José Ubirajara Galli Vieira
Presidente

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Palestra do presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Henrique Alberto de Medeiros Filho
Escritor, publicitário e jornalista
Cadeira 10 e presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Oportunidades a ameaças enfrentadas pela literatura diante das novas mídias e os suportes

Ementa: Pela carência de crítica cultural, há uma confusão proposital entre literatura e autoajuda. As redes sociais trouxeram oportunidades de divulgação da literatura, ao mesmo tempo que confunde literatura com outras escritas, como textos de mensagens, correntes etc. Com a redução das livrarias, a internet se tornou um canal de distribuição e venda eficaz. Mas ainda há poucos que cominam a ferramenta com eficácia.

Texto meramente provocativo para
participação da plateia em interlocuções

O que vamos aqui abordar termina englobando vários temas das palestras anteriores, e ainda avança pela contemporaneidade. Todas as temáticas terminam sendo discutidas e abordadas pelas redes sociais.

Como todas as outras áreas profissionais, não podemos achar que a Literatura, o Escritor, pode ignorar as redes e buscar seus caminhos para chegar ao leitor deixando de lado a internet.

Vamos provocar os conhecimentos dos presentes aqui nessa palestra. Vamos iniciar com todos acessando o site da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e discutir um pouco sobre os assuntos e notícias ali abordados, divulgados e colocados à disposição do público para leitura.

(apresentação do site, da sua estrutura para disponibilização ao público de literatura em Suplementos, Revistas, Informações sobre a Academia, bem como histórico da ASL e de seus acadêmicos – o trabalho buscando a interface com os internautas)

● Quando se fala de literatura e de redes sociais ou internet, temos que abordar a palavra, que está antes de tudo o que se pode pensar no que diz respeito a arte.

A PALAVRA

A arte subjetiva tudo.

A obra-prima que tanto procuramos pela vida sempre é traduzida pela arte.

As belas-artes (que reúnem as manifestações artísticas das artes plásticas, a música, a poesia, a dança) buscam a tradução do sentimento humano, que trazem em seu bojo o humanismo.

Incluída pela poesia nesse contexto – entretanto –, a Literatura, com a palavra, vem antes de tudo.

Vem antes até do próprio cinema mudo, pois houve um primeiro roteiro – com a palavra – antes da própria mudez.

Antes da interpretação, da voz no palco, está a palavra: a peça teatral escrita.

Na música, temos nas suas letras as palavras – trazendo a emoção necessária -, e mesmo entre suas claves e cifras, enriquecendo desde as partituras até as canções populares.

Nas próprias artes plásticas, no seu estudo, no título que resume a obra, na pesquisa do pensar estilo, nas concepções e definições, a palavra grava, marca, lembra, relembra ou mesmo define o abstrato, na explicação do sentimento.

As belas-artes existem pela palavra. A Literatura é uma arte maior. É a arte do pensamento, do expressar sentimentos que levam a viagens intermináveis pela imaginação. A palavra une, é um poder transformador. E vem antes de tudo.

● Ao se abordar redes sociais e literatura, antes há que se procurar entender o que acontece na Educação e nos seus caminhos em relação à Literatura.

O ENSINO E A LITERATURA

No Brasil, as secretarias estaduais de Educação estão seguindo orientações do Ministério da Cultura que pretendem uma grade escolar com unificação das artes e mesmo a Gramática e Literatura, por exemplo, unidas numa mesma cadeira. Isso vem acontecendo no Estado de Mato Grosso do Sul. Ou, na criação da cadeira de artes, englobando música, artes plásticas, cultura popular, e junto a estas se encostar e abordar a Literatura. O que se vê, é a Literatura ausente enquanto componente curricular obrigatório.

É a desvalorização do pensamento, da capacidade do ser humano de se desenvolver como pessoa; é reduzir a expressão de comunidades, regiões, estados, países, continentes, é diminuir o seu conteúdo cultural.

A literatura, aquela que enobrece o pensamento, a capacidade de compreender o mundo, de extrapolar fronteiras do pensar, imaginar e do conhecimento, fica distante do seu poder principal ao deixar de ser iniciadora de leitores, iniciadora do incitar ao raciocínio humano.

Literatura não é gramática. Mas, gramática não deixa de ser matemática com as suas regras exatas. Já a Literatura não tem regras. É a palavra viajando na maionese.

A Literatura precisa de um espaço próprio nas escolas. Um espaço reservado, íntimo, para que possa se relacionar com corações e mentes. E poder transformar o ser humano e fortalecê-lo durante o seu crescimento. E ter, nos regionalismos das educações, o estudo das literaturas nacional e estrangeira, bem como a importante participação dos autores das diferentes regiões. Gerar desde criança um estímulo à autoestima, conhecimento de onde veio, do meio ao qual pertence, o local onde nasceu e suas particularidades, suas dimensões, suas riquezas culturais. Faz com que a pessoa se entenda e compreenda geosociopoliticamente.

● Quando se entende a busca pela palavra e pela literatura nas redes sociais, o que é realmente, hoje, palavra nas redes virtuais?

OS SIGNOS E IMAGENS EM SUBSTITUIÇÃO À PALAVRA

As crianças no século XXI crescem cada vez mais envoltas em mundos superficiais, descompromissados e vazios, em momentos nos quais as imagens substituem as letras e o sentimento é soterrado pela frugalidade. No hoje, isso acontecendo no envolvimento da internet.

A fotografia é uma palavra? O emoticon é uma palavra? Transmitem emoções, transmitem informações, definem instantes ou momentos. Mas fazem parte – dentro das redes sociais – de uma solidão moderna, a existência da imagem como palavra, da abreviação da fala, um, verdadeiro algorítimo que muitas vezes pode não ser de avanço, mas sim de atraso. Onde fica o processo cognitivo dentro de uma inteligência superficial?

As mídias sociais são rápidas. Um dia, a informação talvez venha mais lépida do que a velocidade da luz, no ritmo que estamos seguindo. As leituras são dinâmicas, ágeis e céleres. Mais do que quatro linhas de texto são uma eternidade. Mensagens de voz com mais do que trinta segundos são inaudíveis. A ansiedade não permite. A inquietação é drástica!

Num aplicativo qualquer de mensagens, tente colocar um texto longo ao invés de dividi-lo em inúmeros pequenos textos. Vai ter menos atenção e mesmo compreensão do interlocutor. Faça o mesmo com mensagens de voz, e experimente o resultado. Quem cria stories, quem produz um reels, quem busca passar algum significado através dos meios disponíveis nas redes não pode passar de 30, 40 segundos porque as pessoas não têm mais paciência de esperar tanto assistindo ou lendo alguma coisa.

Estudos referentes a mensagens, a stories, a posts, indicam que aquelas que contêm apenas vídeos ou imagens e aúdios ou combinam imagem e texto conseguem muito mais atenção do que as que apenas contêm palavras.

Como conseguir que uma pessoa encontre o caminho da leitura de 200 páginas de um livro quando não tem paciência de ler mais do que cinco, seis palavras num post?

QUAL É A REAL LITERATURA QUE SE LÊ NAS REDES SOCIAIS?

E o que trazem esses posts? Literatura? Ou frases ditas literárias que se aproximam do que pode se chamar de autoajuda, motivacionais, “frases-cabeça”, que simplesmente chamam atenção por conta de seu impacto imediato. Muitas vezes atribuídas a autores literários, são meras frases sem contexto com sua obra.

Ao procurarem a obra desses autores, terão empatia com o seu trabalho? Se transformarão em leitores? Os que dizem hoje que conhecem Clarice Lispector, Leminski, Drummond, Paulo Coelho, terão lido algo de suas obras? Pelo menos, ao menos, um livro completo? Metade, talvez?

A internet ajuda mesmo a incentivar a literatura?

Os textos que são publicados, basicamente de autoajuda, servem para isso?

As lives que tanto foram e ainda são produzidas falando também sobre literatura, terão apresentado bons resultados em relação a mais do que uma dezena de participantes, ou real difusão para resultados?

Na internet, as pessoas leem muito… leem muito os textos de cinco linhas e de autoajuda. Minitextos, haikais. Sucesso garantido para “influenciadores” digitais que se utilizam de frases pinçadas para buscar empatia, identificação com seguidores.

“Não me deixe ir. Posso nunca mais voltar.” Isso é Clarice Lispector, by web. Mas, será mesmo ela? Traduz sua obra? Quem se animar a ler Clarice Lispector, vai encontrar mesmo essa identificação através do seu texto literário?

O que é realmente é literatura nas redes sociais? Mesmo os grandes autores são curtidos por transformação de seus textos em minimalismos de autoajuda… identificação de resíduos de pensamentos em conteúdos descartáveis. Seus curtidores teriam aquela animação de ler um livro inteiro?

O que é a literatura nas redes sociais? Diários virtuais, pequenos textos, imagens para que seguidores se identifiquem com hábitos e pensamentos. Mas, o que realmente isso representa dentro de um raciocínio literário? O que trazem de positivo para a difusão da literatura, da leitura?

A IMPOSSÍVEL CURADORIA NO COSMOS DA WEB

O que pode ser considerado leitura? Presença dos olhos em posts nas redes sociais? Textos rápidos e superficiais? Onde está a curadoria impossível de existir nesse cosmos da web? Uma pesquisa mostra que 82 por cento de publicações literárias – em outro levantamento efetuado – são produções com texto e fotos. Há necessidade do textovisual em substituição ao audiovisual – o campeão da rede -. Imperiosamente faz-se necessária a imagem. Sem ela, os pensamentos parecem não se completar, a absorção das mensagens parece não ser completa.

A literatura pode se beneficiar da web como propaganda. Falamos dela, abordamos sua necessidade, divulgamos seus benefícios. Mas parece faltar algo para ser ouvido. A grande verdade é que temos de tudo na rede. E uma grande dificuldade de mensurar, estudar e pesquisar de forma profunda os caminhos que levam à literatura. Não são muitos os pesquisadores, as pesquisas, o direcionamento, as mudanças de comportamento e hábito são muito rápidas.

A INTERNET E SUA IMPORTÂNCIA NA VENDA DE LIVROS

Com toda essa fusão entre as mídias tradicionais e modernas e a Literatura – e seu modus operandi – envolvida entre elas, estão sendo vendidos mais livros? Pesquisas dizem que sim. Alguns relatórios recentes mostram que as vendas de ebooks cresceram na Europa 39% apenas em 2021, e com uma tendência de aumento para os próximos anos. A pandemia contribuiu para isso, de acordo com a pesquisa. E no Brasil, o crescimento foi ainda maior. Reportagem do Correio Braziliense diz que foram comercializados cerca de 8,7 milhões de e-books e audiolivros, contra 4,7 milhões em 2019. Ficção liderou a preferência, com 41%, e foi seguida pela não ficção, com 39% e Científico, Técnico e Profissional (CTP), com 20%.

Os e-books representaram 92% das unidades vendidas e os audiobooks, 8%. O conteúdo digital representa 6% do faturamento do mercado editorial – era 4% no ano passado. Nos Estados Unidos ele representa cerca de 30%. Vende-se muito. Dissecar as pesquisas é para os profissionais do mercado. Cita-se muito, entretanto, a pirataria – pela pesquisa Retratos da Leitura, os brasileiros que responderam que leem livro digital o fazem em pdf, ou seja, não pagam pelo e-book; também existe a questão tecnológica no país: o acesso à internet pela população. Há previsões de que até 2026 o mercado global de e-books deve crescer 28% em receitas.

Já em relação ao livro de papel, físico, o balanço de 2021 mostrou crescimento de 29,36% em volume, comparativamente ao ano anterior, e de 29,28% em faturamento. Foram vendidos 55 milhões de livros, que geraram receita de R$ 2,28 bilhões. Há um avanço na leitura, mas ao mesmo tempo recentes pesquisas do Instituto Pró-Livro sobre hábito de leitura apontam que as redes sociais, e não mais o cinema ou a televisão, são os principais concorrentes do livro, e percebe-se que as pessoas deixaram o hábito da leitura e direcionaram esse costume para as redes sociais.

Em 2021, as livrarias exclusivamente virtuais no país já empatavam com as vendas das livrarias físicas. E o mercado parece continuar robusto. A Nielsen Bookscan e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) divulgaram resultados do oitavo Painel do Varejo de Livros no Brasil de 2022, que indicou que, de janeiro a agosto deste ano, comparando com o ano anterior, o aumento na venda de livros foi de 6,03% no volume e 9,6%, em faturamento. Isso não significa que um balanço final seja positivo, pois em 2021 o faturamento das editoras com vendas para o mercado foi negativo: descontada a inflação, houve queda de 4%. Livros didáticos encolheram 14%.

O PROCESSO EDUCATIVO E SUA IMPORTÂNCIA NO HUMANISMO

De qualquer forma, o que temos que focar é na família e nos educadores. Nas escolas, acreditar no processo educativo brasileiro e na profissionalização e formação do professor. No entender da compreensão ampla do que o ler e educar representam. Que a leitura não se fixe apenas nas leituras técnicas, mas também na Literatura, em função do que ela pode representar para a formação humana.

O ensino da gramática é matemático. A leitura dos livros técnicos nos leva a aperfeiçoamentos profissionais. Mas, o instinto pela leitura, pelo hábito da leitura, o prazer de “ler e sair da casinha” está na Literatura. Para formar crianças, adolescentes e adultos voltados para o desenvolvimento do pensamento humanístico e o que isso pode representar para o crescimento das pessoas. Aqueles que leem saem à frente na disputa da vida. O conhecimento traz evolução pessoal e profissional. Permite que você entenda melhor o próximo e o mundo. Que você se compreenda melhor, que se aperfeiçoe. Que tenha melhor crítica e autocrítica. Que tenha a possibilidade de melhor contribuir com a sociedade e o mundo. Inclusive com a Web.*

Alguns dados aqui abordados são da Pesquisa Itaú Cultural, Flip, edição 17 da revista “Observatório cultural”, e Pesquisas Nielsen Bookscan e Sindicato Nacional dos Editores de Livros